"Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal. Parece que não". Com essa frase Chico Buarque começa o seu artigo, no jornal "O Globo", em que defende que as biografias sejam obrigatoriamente autorizadas pelos biografados. A polêmica começou depois que a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel) entrou, no ano passado, com uma ação questionando dois artigos do Código Civil. Um dos artigos determina que é preciso autorização para a publicação ou uso da imagem de uma pessoa e que a divulgação de escritos, a transmissão, publicação ou exposição poderão ser proibidas se atingirem a honra, a boa fama, a respeitabilidade ou se tiverem fins comerciais. O outro artigo diz que a vida privada é inviolável.
A Anel alega que necessitar de autorização prévia é uma forma de censura e isso fere a Constituição, que prevê a liberdade de expressão e o direito à informação. A Associação de Editores pede que o Supremo Tribunal Federal declare a inconstitucionalidade parcial dos artigos, deixando claro que não deve haver autorização prévia para a publicação de biografias.
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Chico com cartaz escrito: "Contra a repressão" |
Já a Associação Procure Saber, liderada pela empresária e ex-mulher de Caetano Veloso, Paula Lavigne, é totalmente contra a publicação de biografias sem autorização do biografado. Para quem não sabe a Procure Saber é uma associação de um grupo de autores, artistas e pessoas ligadas a música dedicado a estudar e informar os interessados e a população em geral sobre regras, leis e funcionamento da indústria da música no Brasil. Bem, isso é o que dizem as informações na página deles no Facebook. Fazem parte desse seleto grupo nada mais, nada menos que Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Djavan e Roberto Carlos.
Aliás, o rei Roberto Carlos, um dos idealizadores do grupo, em entrevista exibida no último domingo no Fantástico titubeou e resolveu mudar de opinião. Segue aspas de parte da entrevista: "Tem que haver um equilíbrio e alguns ajustes para que essa lei não venha a prejudicar nem um lado nem outro. Nem o lado do biografado, nem do biógrafo. E que não fira a liberdade de expressão e o direito à privacidade". No entanto, o cantor proibiu em 2007, com uma ação na Justiça, a biografia "Roberto Carlos em Detalhes", escrita por Paulo César de Araújo. Liberdade de expressão para que serve mesmo?
O mais sarcástico disso tudo é que depois dessa declaração, Roberto anunciou que iria lançar sua autobiografia ("Eu estou escrevendo a minha história e informando muito mais do que qualquer outra fonte"). Renata Vasconcellos foi esperta, como era de se esperar pelo sobrenome, e deu um puxão de orelha no cantor: "Mas, as vezes, o biografado não quer contar tudo, né, Roberto?".
Na contramão da opinião do grupo dos renomados artistas, que sempre foram incontestáveis por muitos, está o escritor Laurentino Gomes, autor dos livros "1808" e "1822". Laurentino engrossa o coro da Associação Nacional dos Editores de Livros dizendo: "Nós, jornalistas, escritores e biógrafos, entendemos que toda pessoa tem direito à proteção legal de sua imagem contra difamações, calúnias ou injúrias. Isso, no entanto, não autoriza ninguém a impedir a circulação de um livro ou reportagem. Deixem que jornalistas, escritores e biógrafos trabalhem. Se eles mentirem ou cometerem injustiças, que seja punidos de acordo com a lei. Mas sem censura!”.
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João Máximo, autor da não-autorizada "Noel Rosa - Uma Biografia", melhor biografia brasileira na opinião de Ruy Castro, ficou pasmo em saber que o cantor Djavan corroborou com a proibição de biografias não-autorizadas: "Compreende-se que Roberto Carlos impeça que livros sobre ele ou a Jovem Guarda sejam publicados. Mas que um artista com a inteligência e a sensibilidade de Djavan engrosse o coro dos defensores das ‘biografias autorizadas’ é, no mínimo, decepcionante". É, acho que sobrou para o rei mesmo.
Opiniões de amigos:
"Eu estou do lado do biógrafo. Eu não sou a favor do argumento que a figura pública pode ter tudo explorado, mas a trajetória artística, sim. Biografia é diferente de site de fofoca. Não acho isso ofensivo para o artista. Se o biógrafo mentir ou caluniar que ele seja punido de acordo com a lei. Mas o importante é não ter censura". Mariana Keller
"Se o artista faz publicamente já se torna um bem público. O que ele faz escondido ninguém vai saber". Paulo Valladares
"Sou a favor, pois considero que as pessoas têm direito à privacidade e também se defender contra biografias difamatórias. Se houver respeito dos dois lados, é possível fazer uma biografia bastante verdadeira para o leitor". Carolina Ribeiro
Oiee
ResponderExcluirAdorei o post , eu amo biografias e quando leio não procuro saber se é autorizada ou não até lá já comprei e li rsrs, mas ai vai de quem esta lendo acreditar em tudo que é falado ou não, claro que eu ver algo que não concordo vou parar para reparar se a biogragia é autorizada ou não.
Beijos
http://www.livrosechocolatequente.com.br/
Olá,
ResponderExcluirEu gosto de ler algumas biografias, principalmente de personagens históricos, e todas que li são não autorizadas. Acho que prefiro por se imparcial.
Ótimo post.
bjs
http://entrepaginasesonhos.blogspot.com.br/
Leio poucas biografias, mas discordo do que a Anel colocou "Como se pedir autorização, fosse um tipo de censura", discordo mesmo! Antes de mais nada uma pessoa pública é apenas uma pessoa... ela tem que ter o direito de preservar aspectos de sua vida. Não concordo que tudo delas tenha que ser esmiuçado e lançado em uma biografia não autorizada. Penso que uma biografia é algo muito íntimo, o que vai escrever e sobre quem vai escrever devem estar em comum acordo (Mesmo que algumas coisas nunca apareçam haha) agora se fosse um livro sobre acontecimentos históricos do País e tudo o mais sou a favor da não autorização rs sei lá... pessoas são mais complicadas. Adorei o post, me fez pensar no assunto que nunca tinha parado pra pensar.
ResponderExcluirBeijos,
Jhey
www.passaporteliterario.com
Super concordo com a opinião da Mariana, a vida artística da pessoa não é um livro aberto? Se ela queria privacidade então que continuasse no anonimato!
ResponderExcluirbeijos,
http://www.misssainha.com/
Eu fico do lado do biógrafo, pois acho que contar a vida de uma pessoa não é errado. É uma homenagem. O que não pode é mentir.
ResponderExcluir;)
O post é super atual. Adorei.
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/
Acho a questão da biografia uma coisa muito delicada. Eu, particularmente, não costumo ler, posso contar nos dedos de uma única mão as biografias que li durante meus 30 anos.
ResponderExcluirNão condeno a biografia não autorizada, mas acho que se determinada pessoa NÃO quer sua biografia sendo publicada, ela tem todo o direito. Antes de ser uma figura pública, é uma pessoa como outra qualquer. Assim como a liberdade de expressão é defendida pela Constituição, a intimidade, privacidade, direito de imagem e honra também são assegurados pela mesma Constituição.
Bjs,
Kel
www.itcultura.com.br
Eu pessoalmente não vejo nenhum problema de ver a carreira de um artista contada em um livro. Realmente é preciso ter cuidado com alguns assuntos pessoas, mas eu acho que se for para contar da trajetório do astro não deveria ter nenhum problema.
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